| O que é o yoga para ti?
Yoga para mim é a percepção da realidade tal e qual como ela é, não como gostava ou imaginava que deveria ser, mas como realmente é. É realizar que eu já sou a realização que quero realizar. Yoga é ver quem sou eu sem “a minha história” ou para além da história. É acordar do sonho da separação e ver que não há separação entre o que eu sou e o que aparentemente me rodeia. E Yoga É sempre, não só durante a prática. Agora neste instante, não daqui a dez anos, não noutra suposta vida, mas aqui e agora, acordar para o que Eu sou. Esta é a minha perspectiva.
Como começaste a praticar Yoga?
Hoje em dia vejo que o Yoga surgiu muito cedo na minha vida, não como a prática que vim a descobrir anos mais tarde, mas como um questionamento filosófico do que era Vida, do que era Real, do que era Verdade.
Em que momento sentiste que devias passar de praticante a professor?
Aconteceu espontaneamente: a professora, com quem eu praticava, um dia faltou e pediu-me para a substituir e foi muito interessante perceber que a sensação de dar aulas era muito igual à de praticar. Fiquei com aquela vontade de talvez um dia dar aulas de Yoga, até porque o Yoga teve um impacto tão grande na minha vida que o natural foi começar a querer compartilhá-lo com outras pessoas. Gostei e a partir daí comecei a minha formação que me levou pelo Brasil, Inglaterra, Índia, Grécia e por vários estilos e métodos de Yoga.
Há quanto tempo dás aulas de Yoga?
Desde essa primeira aula até hoje, há cerca de 10 anos.
O que é a Yoganidrá?
Yoganidrá é uma poderosa prática derivada dos tantras, é um método sistemático de indução de uma completa descontracção física, mental e emocional.
O termo yoganidrá deriva de dois sânscritos contraditórios, Yoga como despertar da Consciência e Nidrá que significa sono, yoganidrá induz um estado de consciência entre o estado de vigília e o sono profundo. Há quem defina como sono consciente, sono psíquico, sono Yogi, mas como qualquer definição é sempre limitativa, logo Yoganidrá é Yoganidrá.
O que te levou a criar um CD de orientação de Yoganidrá?
Foi a convite do meu tio, que é músico e tem um estúdio de gravação, e o facto de, ao longo dos anos, vários praticantes me dizerem que conseguiam entrar em yoganidrá facilmente com a minha indução Além disso, já chegaram a levar gravadores para gravar as aulas e a yoganidrá para depois praticarem em casa, por isso pensei gravar algo profissionalmente e surgiu este cd que contém 4 faixas, uma a explicar como se pratica yoganidrá, para quem nunca praticou, e outras três faixas com durações e roteiros diferentes.
Em que consistem as induções que propões no teu CD?
Consistem em três Yoganidrás com durações e tempos diferentes dependendo do tempo que se tem para praticar e do objectivo que se quer alcançar. O de duração mais curta visa mais um relaxamento físico, mental e emocional, as outras Yoganidrás mais longas tendo também essa descontracção presente funcionam mais como uma forma de auto-conhecimento.
Que dicas podes dar a quem quer fazer o seu próprio Yoganidrá?
Yoganidrá é uma prática muito simples e pode ser aprendida através de uma gravação, o praticante pode também aprender o roteiro de uma yoganidrá e começar a fazer essa mesma rotina regularmente até que deixe de precisar de usá-la, o que acontece naturalmente com a prática.
Outras dicas importantes são praticar num local calmo e tranquilo, usar roupa leve e confortável, o local onde se pratica não deve ser nem muito frio nem muito quente, com frio não se consegue descontrair e com muito calor tem-se a tendência a adormecer. A luz deve estar na penumbra, não se deve comer 3 a 4 horas antes, não praticar quando se está demasiado cansado pois há a tendência para adormecer, e por fim consegue-se um resultado melhor se a yoganidrá for feita depois de uma prática de yoga.
Qual a importância do Yoganidrá?
Para além dos benefícios físicos/mentais/emocionais já conhecidos (sobretudo se inserido numa prática completa de yoga), a yoganidrá promove mais saúde, descontracção, tranquilidade, diminuição do stress, etc. e principalmente, tal como todas as outras técnicas de yoga, serve apenas como um forte indicador, algo que aponta para aquilo que realmente somos, o indicador da nossa natureza real para além de qualquer conceito.
Em que fase da prática te parece mais benéfico realizá-lo?
Depois dos ásanas e pránáyámas e antes da meditação.
Técnicas como o pránáyáma e trátaka, se forem feitas antes da yoganidrá, potenciam bastante o exercício. Mas a yoganidrá pode ser praticada inclusive separada das outras técnicas e até por pessoas que não pratiquem Yoga.
Qual o conselho mais importante que darias ao iniciado da prática de Yoga?
Que ele já é o que procura, que ele já é desperto, logo, que não siga nada nem ninguém de forma hierarquizada, à procura dele próprio, pois ele é a sua própria autoridade.
Que pratique sempre como se fosse a primeira vez, sem expectativas, sem preconceitos, que mantenha a mente aberta e desapegada.
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Ana Sereno é Yoginí e Jornalista. |
